sexta-feira, 22 de março de 2013

Caern faz rodízio em 17 cidades


João Maria AlvesEnquanto em Natal, o desperdício de água tratada chega a 40 por cento, no interior a escassez tem se agravadoEnquanto em Natal, o desperdício de água tratada chega a 40 por cento, no interior a escassez tem se agravado
Sérgio Henrique Santos Pedro Andrade - repórteres

A seca ameaça agravar ainda mais o abastecimento d'água no Rio Grande do Norte. Um rodízio ocorre em 17 dos 29 municípios do Agreste, Potengi e Trairi atendidos pela maior adutora do Estado, a Monsenhor Expedito. Nestes municípios, a vazão foi reduzida em 130 m³ por hora, o equivalente a 30% ou 130 mil litros de água. Com isso, a Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern) deixa de encher 130 caixas d'água a cada hora, se for considerada cada casa com uma caixa d'água com capacidade para mil litros. A conta corresponde a 3.120 casas por dia com abastecimento comprometido. 

"Se formos levar em conta que cada casa tenha quatro pessoas, a Caern deixa de atender satisfatoriamente 12.480 habitantes nas regiões Agreste, Trairi e Potengi", estima Isaías Costa Filho, gerente de Desenvolvimento Operacional da companhia. "E temos que considerar que todas essas cidades tem altas temperaturas, o que provoca mais consumo. As pessoas tomam mais banho e bebem mais água por causa do calor", acrescenta.

Com a vazão reduzida e o consumo aumentado, a Caern acendeu o sinal amarelo. Desenvolveu um sistema de distribuição alternado: em cada dia da semana, um grupo de cidades recebe água  até que  a captação na Lagoa do Bonfim, que abastece o sistema, volte aos índices normais. "A medida foi tomada para não prejudicar a oferta de água no fim da linha da adutora. Fizemos isso para que as cidades, propriedades rurais e assentamentos não sofram com o desabastecimento. Mas claro, pedimos que as pessoas economizem água", destacou o gerente. Isaías Costa Filho alerta que outros sistemas também ameaçam entrar em racionamento, mas por enquanto apenas o sistema Monsenhor Expedito foi atingido. 

Segundo a companhia, a medida drástica permanecerá até  que o manancial seja recarregado, o que somente vai  acontecer com a chegada do período de chuvas. O rodízio está sendo executado de segunda à sexta-feira, em decorrência do menor consumo  de água no final da semana e obedece a uma programação em cada cidade.

A redução na vazão afeta o bombeamento da água que sai da Lagoa do Bonfim e dos sete poços tubulares que alimentam o sistema adutor Monsenhor Expedito. A tubulação percorre 350 quilômetros sertão adentro, tem diâmetro que varia entre 100 e 600 milímetros, e 22 estações elevatórias. A adutora tem  capacidade para  produzir  1.450 m³ por hora, mas reduziu a produção para 1.320 m³ a cada 60 minutos. 

Ainda parece muito, mas uma redução de 130 m³ por hora obrigou os técnicos da Caern a deslocar a bomba que ficava no centro da Lagoa do Bonfim para uma região mais próxima ao porão, onde o líquido é mais abundante. "O rebaixamento da lagoa é que está fazendo diminuir a vazão. Precisamos desligar o fornecimento em algumas cidades em alguns dias na semana. Retiramos o fornecimento em alguns municípios para beneficiar outros", explica o gerente regional da Caern no Litoral Sul, João Alberto.

Previsão é de chuvas abaixo da média 

Meteorologistas do Nordeste estiveram reunidos ontem na última reunião de análise climática para o leste da região.  A reunião aconteceu no Recife (PE), e contou com representantes da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn) e dos centros de meteorologia de outros seis estados. Infelizmente a previsão para os próximos três meses não é animadora: "chuvas abaixo da média" em quase todo o Nordeste.

O boletim divulgado pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), avalia as chuvas que caíram no Nordeste brasileiro no mês de fevereiro. "Para o período de abril a junho de 2013 a previsão de consenso é de chuvas variando de normal a abaixo da média histórica para o setor Leste do Nordeste brasileiro, e permanência  de chuvas abaixo da média nas demais áreas do Nordeste". 

Contudo, os meteorologistas também relataram, no documento, que "não está descartada a possibilidade de ocorrências de chuvas de intensidade moderada a forte, com alta variabilidade temporal e espacial em áreas da Região Nordeste, sendo de fundamental importância o monitoramento contínuo das condições atmosféricas sobre a região e as condições oceânicas e atmosféricas globais". Isso deverá ocorrer principalmente em Alagoas e Sergipe. 

No Rio Grande do Norte, choveu em 13 municípios entre as 7h da manhã de quarta e as 7h da manhã de ontem, segundo boletim divulgado pela Emparn. As maiores precipitações foram registradas em Frutuoso Gomes, no Alto Oeste (15 milímetros), e em São Fernando, no Seridó (14,7 milímetros). 

O relatório traz detalhes sobre as condições meteorológicas que motivaram a previsão. "Anomalias negativas" foram registradas por causa do "posicionamento mais ao Norte da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)". A ZCIT é o principal sistema meteorológico responsável pela ocorrência de chuvas no semiárido nordestino. A próxima reunião de análise climática dos meses de julho a setembro será realizada em Alagoas, sob a coordenação do Departamento de Meteorologia de Alagoas (DMET).

Caern apela ao uso racional da água

A escassez nas reservas e mananciais hídricos do Rio Grande do Norte ocorre tanto na superfície, em represas, açudes, barragens, rios e lagoas, quanto no subterrâneo, ou seja, nos aquíferos freáticos. "Os aquíferos sofrem por causa da ausência da recarga pluviométrica. Para ambos os casos, o motivo é a seca. E não é por falta de produção. Estamos sem matéria-prima: a água", lamentou o gerente da Caern, Isaías Costa Filho.
Aldair DantasIsaías Filho alerta que a seca não atinge só os mananciais superficiais, como também o lençol freáticoIsaías Filho alerta que a seca não atinge só os mananciais superficiais, como também o lençol freático

Por causa da crise no abastecimento, Isaías faz um apelo: "As pessoas que ainda recebem água com regularidade devem evitar o desperdício. O apelo que eu faço é para o uso extremamente racional, principalmente nesses municípios. Isso inclui evitar banhos demorados, não regar as plantas excessivamente, não esquecer o chuveiro pingando, evitar deixar a válvula de descarga emperrada ou a mangueira aberta no pé do coqueiro durante 24 horas. Evitar ao máximo o desperdício", exemplificou. "A orientação é válida principalmente aqueles habitantes que moram nas partes mais baixas da cidade, onde a água chega mais fácil, e onde o desperdício provoca falta d'água nas partes mais altas".

Colapso e carros-pipa

Pior situação do que os municípios com redução na vazão da adutora vivem 15 dos 167 municípios potiguares. Neles, o açude secou e o abastecimento está sendo feito por carros-pipa. É o caso de Luís Gomes, Riacho de Santana, Água Nova, Pilões, João Dias, Antônio Martins, Olho D'água do Borges, Serrinha dos Pintos, Doutor Severiano, Equador, Carnaúba dos Dantas, Coronel Ezequiel, São José do Seridó e Paraná, além de Serra Negra do Norte, que tem Sistema Autônomo de Águas e Esgotos (Saae). Os 407 carros-pipas que fornecem água nestes municípios são contratados pela Caern,  Defesa Civil e Exército Brasileiro.

Rede da Caern é antiga e não suporta pressão

Os altos índices de desperdício de água no estado e na capital potiguar, segundo Elias Nunes, presidente da Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município de Natal (Arsban), se deve, além da estrutura da Caern que nem sempre suporta a alta pressão da água, a questão educacional da população, que por não sentir financeiramente o "peso" dessas perdas, não se preocupa no racionamento, ou sequer um controle no consumo.

"A influência da perda não é sentida pelo consumidor, porque o reajuste da tarifa obedece a planilha inflacionária. Mas, a empresa que trata e distribui sente porque gasta com estrutura e deixa de lucrar com as perdas durante ou depois da distribuição", disse Nunes.

Ele ressalta ainda que "a rede está antiga e não suporta tanta pressão", gerando custos altos que poderiam ser evitados, caso houvesse boa manutenção.

Ele destaca a importância de se evitar as perdas de água tratada, considerando que "a empresa gastou para dar qualidade e distribuir à população", mas perde essa água devido às falhas estruturais da rede. "Essa perda não deveria passar de 10%", critica.

Em relação à atuação em conjunto com a Caern, o presidente da Arsban  afirma que  são feitas análises anuais baseadas nas informações do ano anterior, e aumenta cada vez "as exigências para que ela, [a Caern],  possa diminuir suas perdas e, consequentemente, aumentar seu superávit".

Ele destaca ainda a hidrometração feita nas casas já existentes para que seja conferido  e trocado, caso necessário, os medidores de consumo de água, que tem vida útil de cinco a dez anos.

Para conscientizar a população acerca da necessidade de cuidados com a água, Nunes diz que a Arsban possui pessoas específicas para ir às escolas palestrar sobre como economizar água e, de certa forma, abordar a educação ambiental. "A questão da água é uma questão de sobrevivência. Devemos combater o desperdício  porque também diminui os gastos com a nossa conta", explica.

Ele ressalta a importância de se trabalhar o racionamento, ou uso consciente, da água levando em conta a estiagem que atinge parte do RN. "O clima mais quente influencia no consumo de água e também na disponibilidade nos mananciais", lembra.

Cerca de 50% da água tratada é desperdiçada

A distribuição total de água feita ao Estado do Rio Grande do Norte através da Caern equivale a 19 bilhões de litros d'água, distribuídos a 153 municípios, 13 distritos e 500 comunidades rurais. Nesse cenário, de acesso mais amplo à agua, o RN apresenta um índice de desperdício que gira em torno dos 45% e 50% da água tratada pela Caern, valores próximos ao desperdício também apresentado para a capital potiguar - cerca de 40%.

Segundo Isaías Costa Filho, gerente de desenvolvimento operacional e controle de perdas da Caern, na cidade do Natal, um habitante gasta, em média 250 litros de água por dia, enquanto o RN tem índice aproximado de 170 l/hab/dia, tendo maior concentração de consumo nos bairros considerados de maior poder aquisitivo como Capim Macio, Petrópolis, Tirol, Cidade Jardim e Ponta Negra, predominando as zonas Sul e Leste.

De acordo com Isaías Filho, esse valor é similar ao consumo das grandes cidades do país, mas está bem acima da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 110 litros por dia. Isaías Filho lembra que nesse consumo estão envolvidos os gastos reais e desperdícios, que envolvem, além dos vazamentos, o uso excessivo de água em imóveis que não possuem hidrômetro e, consequentemente, não pagam o valor consumido além dos 10 mil litros inclusos na cota básica de conta.

Segundo ele, a situação se inverte quando se considera o desperdício de água. "O desperdício, ou seja, o consumo além dos 10 mil litros sem pagamento de excedente e vazamentos, é maior nas áreas mais carentes da cidade, devido à falta de hidrômetro para contabilizar os gastos naquele local", disse. De acordo com o assessor comercial da Caern, José Dantas, os principais bairros de desperdício de água são Felipe Camarão, Bom Pastor e Planalto, todos na zona Oeste.

 Isaías Filho disse que a Caern vem investindo em combate às perdas, com a implantação, em cada uma das sete regionais do órgão, de uma unidade de combate à perda d'água e também com a ampliação da macromedição no sistema de distribuição das água e da micromedição através de hidrômetros, cuja meta é atingir 100%.

bate-papo / Leonardo Regom, Titular da Semarh

Quais serão as primeiras medidas?

Em princípio estamos tomando pé da secretaria. Temos um diagnóstico de que a equipe da secretaria é bastante organizada. Isso gera segurança em função de ser primordial hoje ter equipe. Isso nos proporciona condições de executar vários projetos que já estão em pauta. Alguns em execução, outros já licitados, outros já em andamento as licitações e outros aguardando crédito orçamentários. Nossa perspectiva, apesar de ser um momento crítico, de seca, é bastante otimista. Nossa disposição é total.

A secretaria terá autonomia?

A governadora nos dá autonomia para que possamos apresentar de imediato os resultados que a população do RN tanto anseia.

Recebeu alguma recomendação especial da governadora?

A questão da implantação dos poços tubulares. A secretaria tem uma licitação,com recurso próprios do governo, que contempla a perfuração de 400 poços tubulares. O projeto está em plena execução. Já despachei a autorização para perfuração de novos 40 poços, em Equador, Fernando Pedrosa, Apodi e formalizamos convênio com o município de Campo Redondo.

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